23 março 2015

Quando os holofotes se apagam

Estava no II Camporí da ABaC, quando o Pastor Loro –um dos mentores de minha formação – se aproximou de nosso grupo. Depois das praxes de matança de saudades e piadas, alguém o arguiu sobre a possibilidade de ele vir a ser departamental de Desbravadores da União. A resposta dele foi:“Eu tenho é que deixar esse espaço pros novos, pois meu tempo já passou”. Nessa resposta vi um exemplo de abnegação que falta a muitos lideres.
Tudo na vida passa. Todo empreendimento, projeto ou fase tem sua ascensão e declínio, isso não há como evitar. Com as pessoas não é e jamais será diferente. Exemplo disso são os artistas descartáveis que ganham projeção com uma música ou uma cena, sobem meteoricamente na mídia para depois desaparecer parcial ou completamente. No Clube de Desbravadores eu já vi, e com certeza você também viu, líderes – investidos ou não – que usufruem de certa popularidade por muito tempo, sendo influentes em decisões e até no perfil e modus operandi de seu Clube. Com certeza nós também já sabemos que esta popularidade não durou até os dias de hoje e se dura, um dia deixará de durar.
Não estou dizendo que esta pessoa não terá mais autoridade ou o carisma dos membros do Clube, só estou seguindo a lógica filosófica de Nietzsche, quando afirma que “não se entra duas vezes no mesmo rio, é sempre outro rio a passar”, ou a máxima de Heráclito, “tudo flui”.Trocando em miúdos: Nada será como antes. A fama passa.
O dia em que você, eu, ou seja quem for, deixará de ser o centro das atenções é tão certo como a volta de Cristo. O problema é que muitos líderes não querem aceitar esse fato e pior do que não aceitar é não saber lidar com a situação quando um novo macho alfa ou uma nova abelha rainha surge.
Colocando a modéstia de lado, eu ainda sou “o cara”para muitos de meus antigos liderados, que ainda me pedem conselhos, ainda me fazem lembrar do que aprenderam comigo. Isso me deia muito feliz. Mas, atualmente existem desbravadores que nunca ouviram falar de mim e se ouviram não me veem da mesma maneira que aqueles outros. Isso é natural e eu não fui o primeiro e nem serei o último a ver meus holofotes se apagarem. Já testemunhei muitas vezes em muitas situações, líderes se sentirem ameaçados quando uma nova figura dá indícios se se tornar ícone. O sentir-se ameaçado é um fato natural do qual ninguém pode correr, mas uma coisa nós devemos saber: O Clube de Desbravadores não é uma ferramenta para nossa autopromoção ou deleite, é um canal de salvação.
Boicotes, podas, conspirações, fofocas, exclusões são atitudes espúrias que já vi muitos líderes tomarem ao sentirem a coroa sumir de suas cabeças. Os atos de algumas pessoas deixam transparecer que espaço de influência e a popularidade são mais preciosos do que o objetivo do Clube de Desbravadores, e por conta desse poderio, dessa fama, da adulação, nascem a politicagem e a discórdia dentro de um ambiente onde deveria reinar o coletivismo e a cooperação. O lenço ganha status de enfeite nos pescoços dessas pessoas. Se meu tempo passou e eu fui um herói, devo me sentir grato por estar no panteão, pois se lá estou, é porque meu lugar já foi no topo. Saibamos passar o bastão quando chegar a hora. Pois chega o momento em que o legado precisa ser passado.
O Pastor Loro, que me inspirou a escrever este texto certa vez disse em um treinamento: “O sucesso é deixar sucessores”, e eu tenho essa lição para mim, que o sucesso, a fama, a vitrine são consequências e eu só vou merecer estar na galeria dos heróis, se eu souber dividi-los com os que chegam. Quem não aceita os bastidores, não serve para o palco.

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